GALERIA DA DOR
Relato de um menino...
Menino, um dia criança...
Criança, um dia de rua...
Criança gente... gente criança:
“Eu sou gente!”
Sou gente que procuro gente
que absorva meu amor ardente,
num compasso desencontrados
onde gente passa por indigente.
Sou gente que procura gente
que me torne verdadeiramente gente
e não do mundo uma vertente,
tirando-me da testa o rótulo de indigente.
Sou gente que se mistura com gente
branca, negra ou transparente...
O que importa é ser gente
e não um simples indigente.
Sou gente... do cantor a repente
que a muitos faço contente
com versos e prosas cantadas
numa alegria... de mim ausente.
Sou gente que ao abismo passa rente
por haver gente que não me vê gente,
e sim uma triste figura
de um desprezado indigente
Sou gente, elo da corrente
de um mundo obscuro e incoerente,
que até certo ponto...
não deixa de ser atraente.
Sou gente... humildemente gente,
um tanto eloquente como contundente;
mas que no fundo é apenas gente
que merece ser amada como gente...
Simplesmente gente,
e não... como simplesmente e vulgar indigente.
(Rogério Godoy)