A Origem e o Destino da Adoração.
Por Rogério Godoy
A primeira vez que o vocábulo adoração aparece na bíblia é por intermédio de Abraão (o pai da fé) em Gn, 22.
Nos versículos 1 e 2, Deus põe Abraão à prova pedindo que este, em obediência a Ele, sacrificasse a seu filho Isaque, determinando até mesmo o lugar do sacrifício.
*Abraão era um servo temente e obediente a Deus, e no caminhar com Deus aprendeu a não questionar seus desígnios. Ainda que lhe fosse deveras penoso, ele sabia que o mais importante de tudo era satisfazer o coração de Deus, independente do que ele achava ou deixava de achar.
Qual a resposta que temos dado a Deus quando este nos pede algo? Deus não precisava da morte de Isaque, da mesma forma que não "precisa" de nós; a não ser, para o adorar com nossas vidas num romance eterno com Ele e vivermos uma profunda intimidade sem reservas, nos derramando a seus pés e espalhando por toda terra as boas novas do evangelho.
No versículo 3, vemos que Abraão não só se dispôs a obedecer, como também foi ele quem providenciou o material necessário para o sacrifício.
*A dor de Abraão deveria ser muito grande, e só aumentava ao tocar em cada material que se fazia necessário a um holocausto.
O único holocausto que Deus pede de nós é jogarmos nossas vidas a seus pés e redermos nossas vontades em sacrifício a Ele, e edificarmos-lhe um altar para o adorar, com nossos sonhos, certezas e porquês.
No versículo 4 e 5, Abraão avista de longe o lugar que Deus o havia reservado para receber sua adoração. Abraão só tinha uma certeza, a que iria adorar e com o seu mancebo voltar para junto de seus servos.
*Os nossos olhos e coração têm que estar sempre atentos ao lugar e o momento da adoração; temos que ser sensíveis ao momento que Deus preparou para Sua adoração. Muito se discute até os dias de hoje do significado da expressão de Abraão para com seus servos quando lhes disse: Esperai aqui, com o jumento; eu e o rapaz iremos até lá e, havendo ADORADO, voltaremos para junto de vós. Mas, podemos definir sua ação, pelo simples fato de acharmos nele um homem temente a Deus e cheio de fé no Deus que o chamou, o preparou e o honrou com sua destra fiel.
No versículo 6, Abraão coloca sobre Isaque a lenha para o sacrifício; mas, é ele quem leva o fogo e o cutelo na caminhada que fazem juntos até o monte do holocausto (o qual em tempos futuros seria erguido as fundações do Templo de Salomão).
*Muitos ressaltam o martírio pelo qual passou Abraão neste episódio, e ainda assim se colocou em posição de obediência a Deus. Mas o texto nos relata que Isaque era um rapaz, o que significa que o mesmo já não era mais um menino; e este se colocou na posição de, ainda que não o soubesse explicitamente o intuito de seu pai, obedecê-lo ao extremo. Propôs-se a levar o fogo e o cutelo, pelo simples fato de que estes eram os utensílios do adorador, chamar a morte com o cutelo e a atenção de Deus com o fogo, que na maioria das vezes é a representação de sua presença. O adorador morre para sua vontade no altar e chama a atenção de Deus com o seu coração ardendo em chamas por desejar e sentir a presença de seu Senhor.
Nos versículos 7 e 8 nos narra a conversa entre Abraão e seu filho Isaque, que pergunta a seu pai onde está o cordeiro para o sacrifício, no que, sem pestanejar, ele lhe responde: Deus proverá.
*Nós, que nos intitulamos adoradores, devemos ter sempre a certeza que ainda que as coisas pareçam não terem mais solução, a resposta final é sempre de Deus; e Ele sempre fará o melhor. Se assim não o for, Ele “não seria Senhor, e sim servo”.
Nos versículos 9 e 10 Abraão prepara um altar para o Senhor seu Deus, toma a seu filho e o amarra sobre a lenha do altar e toma nas mãos o cutelo para imolar a seu filho.
*A verdadeira adoração é aquela que é feita sem reservas, sem dizermos para Deus o que é melhor para o adorar. É uma entrega não apenas de palavras; mas de vida, com principio, meio e fim. Nenhuma adoração move o coração de Deus quando é feita com reservas, apenas pela metade, achando que “Deus conhece os nossos corações” e se satisfaz com nossas covardias.
Nos versículos 11, 12 e 13 Abraão é aprovado em sua provação; pois não questionou, não tentou barganhar com Deus, e nem se limitou em sua obediência. Sendo assim honrado pela substituição de seu filho (o da promessa) por um cordeiro que o senhor proveu para o holocausto.
*Quando Deus pede algo para o adorador, de antemão Ele já sabe que o mesmo tem condições para o realizar; e só não o faz, por permitir que a covardia alimentada pelo “ser eu”... seja maior que o reconhecimento, a gratidão e o amor pelo seu Senhor e Salvador.
Assim, percebemos que quando Jesus, em João 4:24, diz a mulher samaritana que: “Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade.” Ele se referia aos adoradores como Abraão e Isaque, entre outros tantos mencionados na escritura; que adoravam ao Pai, não apenas de lábios e muito falar; mas com a vida derramada aos teus pés, numa entrega constante e... sem reservas.
O literal significado da palavra adoração é: culto ou veneração prestada a uma divindade; e louvor: elogio. Bem sei que a maioria dos chamados adoradores não sabem disso; mas se souberem o verdadeiro motivo e destino de sua adoração, estão no caminho certo.
Em Mt. 15 é narrado o episódio de uma mulher não judia, portanto estrangeira, que ao ver Jesus, clama ao mesmo para que lhe tenha compaixão (vs. 22); no que Jesus nada lhe responde. Seus discípulos pedem-lhe que a despesa, pois clamava atrás deles; Jesus a estes respondeu que não veio senão para o povo de Israel (vs. 24). O desespero daquela mulher era tão grande, que mesmo ouvindo isso do Filho de Deus, ela não desistiu, derramando-se aos seus pés o adorou e clamou por socorro (vs. 25). A adoração daquela mulher despertou a atenção de Jesus que disse-lhe não ser conveniente tomar o pão dos filhos e dá-los aos cachorrinhos. Muito embora, existam controvérsias, Jesus veio para o povo judeu e sua intenção era salvar inicialmente o povo “escolhido”. Mas, a mulher que tinha por certeza estar diante de alguém que a podia ajudar a salvar sua filha, que se encontrava enferma, retrucou, sem deixar de o adorar, dizendo: Sim, Senhor, PORÉM os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa de seus donos (vs. 27). Aquela mulher desprezada ousou retrucar com Jesus, mas não com afronta, e sim em adoração; ela estava em desespero pela possibilidade de perder sua filha e diante da única pessoa que poderia socorrer-lhe, não se deixaria derrotar pelas circunstâncias. O adorador não pode desistir de alcançar o coração de Deus, ainda que as circunstâncias digam NÃO. Ela não se importou com o que todos falavam dela, com sua condição de estrangeira, sua única intenção era a de chamar a atenção de Jesus para si e para sua dor; e a adoração foi o caminho que encontrou. Vendo a tamanha fé daquela mulher, Jesus a engrandeceu e despediu-a com a vitória em suas mãos. Aquela que se prostrou frente ao Mestre, falida em suas emoções e em seus sonhos, se levantou, não apenas com a certeza da cura de sua filha, mas com o seu nome escrito na história, como uma adoradora.
Se queremos ser reconhecidos por Deus como adoradores, devemos fazer como está mulher: Se dispor, acreditar, se humilhar, e se preciso for... esperar; nunca desistir de comover ao coração do Pai. Só assim seremos vistos e recebidos por Ele... como verdadeiros ADORADORES!!!